São cada vez mais as empresas agrícolas que procuram reduzir custos de produção para se tornarem mais competitivas e que querem ser mais sustentáveis. Duarte Caro de Sousa, director-geral da Ikaros-Hemera, explica como se pode equilibrar a factura energética.
Que serviços prestam relativamente aos sistemas fotovoltaicos?
A empresa dedica-se exclusivamente a esses sistemas, direccionados para o sector empresarial. Fazemos o que chamamos de EPC. Engeneering (concebemos toda a parte da solução e fazemos toda a engenharia do próprio sistema, tendo em conta o sítio onde se destina a instalação do solar fotovoltaico); o Procurement, onde escolhemos dentro da gama de equipamentos que está disponível quais os mais adequados àquela solução de engenharia que foi concebida; e depois a fase de construção, que é toda a parte “chave na mão” da instalação desses sistemas.
E como funcionam exactamente?
Estes sistemas vão converter energia do sol em electricidade ligados aos pontos de consumo de cada empresa. Além desta parte de EPC, há outra muito importante que é a da operação, porque não basta instalar bem o sistema, é imperativo que se garanta que o mesmo funciona da maneira que estava previsto, que se consiga superar a produção estimada. Entretanto, a nova legislação veio permitir a oferta de outras soluções…
Sim, de facto, desde 2015 passou a haver legislação que permite que os consumidores de energia possam também ser produtores de energia.
Teve um grande impacto nas empresas agrícolas?
Sim, o sector agrícola é um dos que mais pôde tirar vantagens disto e cada vez há mais empresas interessadas em ter benefícios reais com a adopção destes sistemas. Na agricultura sempre se falou muito das energias renováveis e da subsidiação que era necessária. Temos conseguido ter preços mais competitivos, pois houve uma queda acentuada do preço desta tecnologia ao longo dos últimos anos, o que permitiu abandonar estes modelos de subsidiação. Além disso, estas soluções sustentáveis contribuem para uma maior descarbonização e hoje em dia esse é um factor a que se dá muita importância, principalmente por parte dos mercados internacionais.
Na prática o que é que esta legislação permitiu?
Que existam duas possibilidades de se instalar o solar fotovoltaico. Uma em que os próprios sistemas vão vender energia à rede a um determinado valor, que é fixado para 15 anos. São chamadas Unidades de Pequena Produção (UPP), o sistema injecta toda a energia na rede e o consumidor é remunerado por essa energia que é vendida. Ou seja, na prática passa a ter duas facturas de energia, uma que é a energia que consome e outra que é a energia que vende; a outra alternativa é chamada de UPAC, onde a energia que é produzida naquele sítio é utilizada em substituição à compra de energia da rede. O consumidor só recorrerá à rede se necessitar. Neste caso, o que produzo deixo de comprar à rede e poupa-se por aí.
No primeiro caso que referiu, a poupança acontece por se vender energia à rede, certo?
Exacto. Uma vez que esta legislação permite que se produza até ao dobro do consumo, há situações em que se conseguem ter superávidos energéticos, tanto do ponto de vista energético, como em termos de valor. E esta é uma opção muito utilizada no sector agrícola, que tem bastantes consumos, mas regra geral mais irregulares e instáveis, aconselhando-se nesse caso o UPP. Quando esta legislação foi criada, as empresas do sector energético alertaram o Governo para o facto de que se não fosse permitida a venda total de energia à rede, muitos sectores, como o agrícola, dificilmente teriam vantagens em recorrer a estas soluções sustentáveis.
Têm trabalhado com muitas empresas agrícolas?
Sim. Estes sistemas de produção descentralizada da energia permitem ter balanços praticamente nulos ou positivos e sabemos o peso que os custos de energia têm nos custos de uma exploração agrícola. Temos feito vários projectos agrícolas, temos na Quinta da Alorna, Casa do Cadaval, Quinta da Lagoalva de Cima, Fundação Eugénio de Almeida, na Jurofrutas, Torriba, a Falua… enfim. Estes sistemas duram 25 anos e é possível ter o retorno do investimento em cinco, seis, sete anos. Além disso, o sector agrícola tem uma particularidade óptima que é precisamente a do consumidor poder também ser produtor.
Estes painéis requerem muita área disponível?
Não, são extremamente modulares, não ocupam muito espaço. Por exemplo, para 200 quilowatts preciso de 3.000 metros quadrados e são instalados em zonas que não vão interferir com a actividade agrícola. Estamos a falar dos recantos e áreas desaproveitadas.
Muitos produtores dizem que são sistemas bastante dispendiosos.
Regra geral, o foco do empresário é investir no seu core business e estas soluções não são propriamente terra ou tractores. Penso que a relutância em adquirir este tipo de ferramenta passa muito por aí. De qualquer modo estamos a falar de sistemas que vão ajudar a reduzir custos de exploração por via da compensação do custo de energia, e estamos também a contribuir para termos mais descarbonização. Para os clientes que não querem fazer este investimento, temos uma solução onde investimos por eles. Temos entidades financeiras que vão investir por conta destes agricultores, permitindo que o dono de um terreno ceda a utilização do seu ponto de consumo. Em troca, vai-lhe ser paga uma renda durante determinado tempo, que pode ser 15 ou 20 anos. Ao fim desse tempo, o sistema passa directamente para o agricultor sem este ter gasto nada. É o chamado Modelo de Investimento de Terceiros. Em agricultura, cerca de 70% opta por esta modalidade. Temos depois também a venda directa.
Que cuidados estes sistemas merecem em termos de manutenção?
Não exigem muita manutenção. As nossas equipas vão fazendo a monitorização, que é feita on-line, onde vão vendo se a produção está a ser feita conforme se estimou e depois existe um plano de manutenção preventiva que passa por ir lavando os módulos, e ir cortando as ervas que vão crescendo por baixo dos painéis.