O mercado da energia solar tem ainda um enorme potencial de crescimento em Portugal. A produção fotovoltaica contribuiu com apenas 3% da totalidade da energia renovável produzida, no ano passado, e 3,5% da totalidade da capacidade renovável instalada no país. Para o país com maior irradiação solar da Europa, são valores claramente insuficientes. Cabe às empresas do setor desenvolver esforços para alterar este estado de coisas, referiu à “Vida Económica” Duarte de Sousa, diretor-geral da Ikaros-Hemera, empresa que opera sistemas solares fotovoltaicos, exclusivamente para o setor empresarial.
Vida Económica – A energia solar está ainda subaproveitada no nosso país. Quais os principais problemas que se colocam às empresas do setor?
Duarte de Sousa – A imagem está ainda muito ligada à subsidiação e às rendas excessivas que, genericamente, o setor fotovoltaico possui junto do tecido empresarial, bem como à baixa perceção pelas empresas das vantagens que o solar lhes pode proporcionar. A ausência de definições claras das entidades competentes de alguns temas técnicos – sobretudo no que se refere às formas de ligação à rede – é uma outra dificuldade. Um outro desafio que se coloca às empresas do setor é a necessidade de terem de se apetrechar com recursos humanos qualificados, dada a maior exigência de know-how para que se projete e implemente um sistema verdadeiramente adequado ao perfil de consumo e espaço disponível de um dado consumidor de energia elétrica.
VE – Qual o “estado da arte” no nosso país?
DS – O mercado da energia solar, em especial no que respeita ao autoconsumo, cada vez mais é encarado pelos gestores como uma solução efetiva. Não para a totalidade da fatura energética, mas para cerca de um terço dos seus custos. Significa que esta percentagem deixa de estar dependente da variação dos preços da eletricidade, o que é bastante relevante, sobretudo para grandes consumidores. De notar que esta energia tem hoje um custo mais baixo do que há cinco anos. Menos 25% do que nessa altura, o que reflete uma evolução muito rápida, que tem ajustado toda a cadeia de valor, com maior relevância na produção do próprio modelo fotovoltaico.
VE – Mas para o consumidor normal já é vantajoso recorrer à energia solar?
DS – O autoconsumo permite que qualquer consumidor de energia possa instalar sistemas solares fotovoltaicos adequados ao seu perfil de consumo e possa produzir a sua energia. É uma solução vantajosa porque permite o desenvolvimento da melhor solução técnica para determinado investimento de instalação de energia solar fotovoltaica, perfeitamente ajustável a cada consumidor. Este investimento permite retornos entre os cinco e os oito anos, sendo que os sistemas têm um período de vida útil de 25 anos. Cada consumidor pode escolher entre pagar mensalmente a fatura de eletricidade ou transformar esse valor numa prestação de um financiamento para aquisição de um sistema solar. O consumidor empresarial tem um impacto zero na sua tesouraria e, por exemplo, passados 10 anos, passa a ter esse ganho efetivo por mais, pelo menos, cinco anos.
Mais de três dezenas de clientes empresariais
VE – Como opera a Ikaros-Hemera no mercado português?
DS – É um empresa especializada na engenharia, construção, manutenção e operação de sistemas solares fotovoltaicos exclusivamente para o setor empresarial. Atuamos em várias indústrias. A Ikaros-Hemera tem mais de três dezenas de clientes em Portugal e a oferta inclui dois modelos de negócio. Um é a venda direta ao cliente final e outro a venda por via de investimento de uma terceira entidade em que o cliente não tem de suportar qualquer investimento. No ano passado, este último modelo de negócio representou mais de 60% da atividade da empresa. Em paralelo, temos um centro de competências, que desenvolve projetos para todo o mundo. Esta unidade, que conta só com engenheiros nacionais, engloba o centro de engenharia, construção e monitorização do grupo Ikaros.
VE – Qual a vossa estratégia de mercado, a nível nacional?
DS – A nossa estratégia assenta em três vetores principais. O primeiro é continuar a capitalizar a experiência de referência na instalação de sistemas em autoconsumo de média e grande dimensões. O segundo vetor é a continuação da aposta no modelo de negócio com investimento terceiro, em que a Ikaros-Hemera tem implementado muitos projetos com injeção na rede – e capitalizar a experiência adquirida nos projetos-piloto com sistemas UPAC (autoconsumo) para empresas. O terceiro é o contínuo reforço e crescimento do centro de competências de engenharia, construção e monitorização do grupo, localizado em Lisboa, e da respetiva capacidade de inovação.
VE – Considera que a atual legislação para o setor é a adequada?
DS – Acredito que sim, porque acompanhou a evolução tecnológica. A legislação que está em vigor desde 2015 permite a utilização de sistemas solares fotovoltaicos para a produção de eletricidade para consumo próprio, possibilitando que estes sistemas solares funcionem como ferramentas muito eficazes e úteis para a eficiência energética, complementando outras medidas que as empresas podem implementar para este fim. Por outro lado, para as empresas que têm perfis de consumo muito irregulares, como, por exemplo, as empresas do setor agrícola, existe a possibilidade de optarem pela venda da energia à rede, com um preço fixo durante 15 anos (UPP).